domingo, 24 de fevereiro de 2013

#18 crítica: A Hora Mais Escura

De olho na casa: Chastain brilha mais uma vez em Zero Dark Thirty
O SEAL em ação na captura do homem mais procurado do mundo.

A diretora Kathryn Bigelow, vencedora do Oscar de melhor diretor em 2010, por "Guerra ao Terror" resolveu ir adiante num projeto que por si só já envolve uma polêmica brava, que é a morte do terrorista Osama Bin Laden, em 2011 por uma equipe norte-americana do SEAL. A tal polêmica começa quando há suspeitas referentes a posse de informações sigilosas que a equipe de filmagens teve acesso na criação do roteiro. Além do filme ser acusado de ser conivente com o uso de tortura para interrogatórios  Se formos para o que ocorreu naquele dia tudo é muito envolto em mistério. Ao abrir a porta, Osama levou alguns tiros na cabeça e morreu na hora. De acordo com relatos, ele tentou reagir, mas foi morto instantaneamente. A tarefa da diretora ao lado do roteirista de "Guerra.." e jornalista, Mark Boal era trazer a vida um retrato fiel do que ocorreu naquele 1 de maio de 2011, quando ocorreu a operação em solo paquistanês. Na tela, podemos ver tudo o que poderia ser mostrado num filme de 2 horas e 40 minutos que corre sem deixar o espectador respirar, numa trama sem abrandar absolutamente nada e sem censura. Cenas de torturas, e diálogos afiados dos personagens. Em um roteiro magnifico que deve levar o Oscar.

Jessica Chastain é a engrenagem que põe o filme para se transformar numa obra tensa e grandiosa. Não vejo atriz nenhuma capaz de reproduzir os sentimentos e angustias que sua personagem é capaz de mostrar. Algo que vindo de uma personagem que abrevia tanto as condições para a atriz se expressar e transmitir suas reações diante de suas emoções e raiva, cabendo a ela somente as expressões que percorrem o seu rosto para dizer algo de si. Um papel duríssimo  e que comprova o grande talento dessa atriz. Ela interpreta Maya, uma agente da CIA que cuida da investigação sobre a Al Qaeda e captura dos principais lideres, tendo no cume a captura de Osama Bin Laden, ao lado de seus companheiros da agencia, composto por atores magníficos em seus papéis: Jennifer Ehle, Jason Clarke e Joel Edgerton. Sua busca por respostas sobre aonde se encontra Bin Laden vão da sua conivência com a tortura a momentos em que ela se apequena diante das fragilidades das situações. O desespero e a tensão que a cena em que seu carro é alvejado dá o tom do que se trata "entrar na lista", como se referem aqueles que estão sendo observados. Sua colega interpretada por Jennifer Ehle (excelente atuação), é o exemplo dos perigos que um funcionário da agencia estão propensos a sofrer em nome das investigações em curso. Maya caminha até o mais profundo que pode chegar e alcança a serena paz escura trazida pela vingança, que a motivou mais do que o papel humanista da prevenção de novos atentados, não que isso por si só já não implica, porém me refiro a sua principal motivação.

Em uma das cenas mais extraordinárias do filme, o carro com um sinal do mensageiro de Bin Laden captado por um celular apreendido, vai surgindo aos poucos conforme o carro do pessoal da CIA vai se aproximando em meio ao transito caótico de Islamabad. O tipo de tensão que a diretora Bigelow pinça com excelência. Essa cena é de arrepiar.

Kyle Chandler muito bem no filme ao lado do ator Jason Clarke:
Mark Strong cansado dos avisos de Chastain. Os vidros de sua sala que o digam.

Somos apresentados a uma trama que não deixa de surpreender mesmo ao já estarmos ciente do seu desfecho.O clima do filme, que logo no inicio já nos prepara para o sentimento de justiça pela morte do terrorista com as vozes de vitimas do 11/9, e se torna mais pesado até chegar ao seu fim. Pouco a pouco, a personagem de Chastain cresce na trama até o instante em que um avião inteiro do exército a espera nos últimos momentos naquela base americana palco de toda a história e o soldado constata que ela deve ser muito importante para ser a única passageira a ser conduzida pela aeronave. O seu rosto diz muito ali. Algo que se traduz no cansaço da corrida contra Bin Laden e um imenso desgaste.

Sobre as acusações de ser conivente com a tortura uma cena peculiar traz Maya e outros numa mesa vendo numa TV, o atual presidente Barack Obama dizer que não seria tolerada a tortura no seu governo. E o que vemos nos jornais hoje é o uso de drones na guerra ao terror. Irônico ele condenar o uso de tortura em seu governo, mas abraçar um dos instrumentos mais letais na guerra contra o terror, hoje muito mais usada em missões do que nos tempos de George W. Bush e ainda por cima continuar a manter aberta a prisão de Guantánamo  Ou seja, ironias.

A diretora Kathryn Bigelow e o roteirista Mark Boal: alvo no inimigo.

O filme é incrível e possui um roteiro genial, que aqui traz a tona diversas questões da politica internacional do país e o sentimento que circunda o espirito da população em busca de justiça pelo desfecho. A morte do terrorista enfraqueceu a Al Qaeda, que tem nos dias de hoje suas ações mais concentradas na Africa e nos levantes sunitas do Oriente Médio. Naquele 1 de maio, mais precisamente a 0:30 de 2 de maio de 2011, a população hasteou suas bandeiras americanas. Bin Laden foi executado  O percurso que o levou a ser morto gera questionamentos e legitimidade, que vão de encontro com a importancia de se ter feito tudo isso.  Aqui nos trazendo uma obra de ficção baseada na realidade, Bigelow merece os aplausos pela obra prima moderna num mundo sem romantismos. Um longa intenso e memorável, mas bastante problemático.



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