domingo, 10 de fevereiro de 2013

#11 crítica: Amour

Haneke com os atores Emmanuelle Riva e Jean Louis-Trintignant

Vi no feriado de São Paulo, o filme Amor, do diretor Michael Haneke, numa sessão lotada no Frei Caneca. Tem algumas coisas que me intrigaram no filme, e tenho que admitir que o filme é duro, intenso e sem mensagens altruistas. Em muitas partes dele o senso de uma busca por entender a natureza desse sentimento que é o amor, acompanha toda a sessão. Um algo que transcende os limites do incalculavel, do ponto de vista do que é feito esse sentimento e os limites que faz dele algo de se admirar. O diretor austriaco é um manipulador desses cenarios e conduz o espectador a um desfecho cruel e inevitavel, como o protagonista denota em suas ações. Numa edição publicada ano passado na revista Cahiers Du Cinema, na capa a publicação desconstruia a idolatria por muitos dos criticos e profissionais sobre Haneke e seus filmes como Caché, A Fita Branca, Funny Games, por aí vai... a ideia era expor a frieza com que tratava seus temas sobre a humanidade, da qual ele pouco se importa. O que vemos nesse filme novo e aclamado do diretor é o inverso do que boa parte dos seus filmes expõe, aqu iestá a imagem de uma dolorosa separação de um casal de idosos por meio de uma doença que atinge a senhora, que a faz aos poucos, num processo de degradação, perder suas funções e sentidos vitais. Já seu marido, extremamente fiel se põe a fazer o que pode para salvá-la. O que sobra ao final do casamento é o amor que vive, mas pode ter algum valor de fato em meio a tanto sofrimento? O sentimentalismo aqui se esvai. O que sobra são pedaços de um amor que pode ser maior que tudo, ou pode ser algo que dure por um tempo em sua forma romantica de ser. Essa talvez seja sua essencia: o amor, seus pesos e medidas.
E foi inesperado. Se no começo, ambos acompanhavam seu pupilo musico, - a senhora de nome Anne, interpretada pela brilhante atriz Emmanuelle Riva, (de Hiroshima, meu amor, 1959) era uma professora de música antes de se definhar aos poucos. Acabamos vendo num café pela manhã, Anne parada diante de um marido (Jean Louis-Trintignant, esplendido), que atonito não sabe como reagir. Com o peso dos anos, caminha o máximo que pode e se veste. Com o espanto de ter visto sua mulher de tantos anos parada, congelada, abriu a torneira para molhar seu pescoço. Enquanto se vestia, percebeu que a torneira foi fechada. Voltou e Anne não se lembrou do ocorrido. Dali suas vidas não seriam as mesmas. O amor daria prova de sua força, sua intensidade e sua insensibilidade.

O fatidico momento em que a doença é revelada. Dores que dialogam com o amor.

O amor pode não existir, como dizem muitos, mas há um quê de libertador nesse sentimento, algo que impera em tudo em suas expressões, mas ao mesmo tempo nossa fragilidade humana se deteriora a medida que somos seres vivos feito de carne e ossos. Amor é algo poderoso, mas entre nós, seres humanos, é falivel de certas incongrencias. Sua intensidade se transforma em algo generico , mas outros sentimentos fazem tudo ser imperfeito num ambiente em que toda esse amorosidade se supera. É possivel ver um amor entre duas pessoas no máximo, por isso é um sentimento fragil. Um amor por uma comunidade ou algo assim, é a superação de outras questoes e necessidades. Sentimos o poder disso quando nos atraimos por alguém. Ou pelos pais, irmãos. Entretanto, não abrange tudo e todos. 
O longa-metragem de Michael Haneke é dificil de digerir. Tudo parece nos carregar a uma aflição crescente. Seja na torneira aberta, no pombo que entra de assalto a casa, os pesamos dos funcionarios do prédio em que moram. Sua forma de narrativa é gelada e ganha dimensões com o desfecho. Ali, nesse fim, tudo é em vão e vale a pena. De repente achamos que a cena continua com a filha entrando na casa dos pais e sentando a cadeira. Já havia acabado o script, os letreiros subiram e o tal do amor do título carrega a todos que se perguntam sobre a si mesmos e sua capacidade de amar alguém assim.

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