sábado, 23 de fevereiro de 2013

#16 crítica: O Lado Bom da Vida

A paixão pelos Eagles une Pat (Bradley Cooper) e Pat Sr. (Robert De Niro) ao seu modo.
Atuação magistral de Lawrence. Não nada igual. 

Sabe aqueles filmes que te faz embarcar na história e quando você vê os letreiros subindo vem aquela sensação de prazer em ter passado boas horas numa sala de cinema. Assim é uma das possíveis maneiras de explicar como se sentir depois de ver O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook). A história de romance que há aqui pra mim tem muito de pretexto para falar da vida, dos momentos em que decidimos fazer coisas e nos surpreendemos com elas. Uma válvula de escape para todas as frustrações pode ser dar lugar para experiencias que nos transforma. O que é mais legal no filme de um dos meus diretores favoritos, David O. Russell é a forma encantadora de se revelar boas interpretações. Ele dá total liberdade criativa aos seus atores e o resultado é coesão em tudo. No seu ultimo filme, The Fighter, temos o que há de melhor nos atores Christian Bale, Amy Adans, Mark Wahlberg e Melissa Leo. Aqui algo se supera na opinião desse observador de filmes malcriado, que não liga para quem fala que esse filme é de mulherzinha e acha esse aqui o melhor filme do ano, até um outro aparecer para eu soltar esse elogio mais uma vez. Impossível não se sentir admirado e perplexo com tamanhas interpretações. Bradley Cooper, um ator que vem crescendo mais e mais. De um ator mediano, ele é a minha, a do Peter Travers, critico da Rolling Stone, e de todos os pensadores da sétima arte a aposta de ator para o futuro  Teve aqui sua primeira indicação ao Oscar de muitas que virão, sem duvida. Seu personagem Pat sofre de problemas psicológicos revelados após ter espancado o home com que sua mulher estava o traindo, em sua própria casa. Após ficar por durante oito meses numa clinica psicológica  sua mãe, numa atuação de arrepiar da veterana atriz Jackie Weaver, o resgata de lá e o traz de volta para junto da família  Seu pai, interpretado por Robert De Niro (outro ator que surge de um tempo sem brilho algum e agora vale de uma indicação de melhor ator coadjuvante por esse filme), se espanta num primeiro momento ao ver o filho regresso e passa a não descansar enquanto Pat não permanece ao seu lado nos jogos do time de futebol americano Philadelphia Eagles. Na sua mania que beira ao TOC, ele acredita que a presença do filho em sua casa tem uma razão, que é a de dar sorte a seu time. Outros atores que achei muito bom é o irmão de Pat (Shea Whigham), que protagoniza uma cena que gosto muito quando ambos vão ver no estádio um jogo decisivo contra o time de Nova York e todos acabam numa briga com outros torcedores, para o desespero do patriarca e outro retorno em grande estilo, o do ator Chris Tucker no papel de um internado do hospital psiquiátrico com quem Pat cria amizade.

Weaver e De Niro. Excelentes atuações.

Pat volta ao lar com a intenção de reatar com sua ex, que exigiu que a lei o mantivesse a uns metros de distancia dela. Voltou a correr para controlar o estresse com tudo, que só vem a crescer a medida que evita a tomar os medicamentos prescritos, e voltou também a se socializar com os amigos e com pessoas próximas.  Numa certa noite num jantar na casa de seu amigo, Pat revê a irmã da mulher de seu amigo, Tiffany (Jennifer Lawrence), cujo marido morreu recentemente e dali ambos passam a ter encontros cada vez mais fora do comum a todo momento, em especial nas corridas matinais de Pat. Ele não quer ficar mal visto ao seu lado, dado aos comentários maldosos feitos sobre ela, e ela não quer se sentir sozinha. Todo esse complicado relacionamento vai acabar numa competição de dança  em que é apostado todo o dinheiro do Pat pai. Até chegar esse momento muitas águas devem rolar e sentimentos desconhecidos e novos vão surgir entre eles e somente no momento certo será revelado.

David O. Russell e seus pupilos.
O bom filho a casa retorna: Pat volta do hospital psiquiátrico.

Lawrence é uma das melhores (porque são muitas) coisas do filme. Radiante, controladora, anti social. Um furacão. Uma das mais brilhantes atuações de sua carreira e das que já vi ultimamente. Sua Tiffany sofre e nunca admite seus problemas, pelo contrario preferindo se embebedar ou transar com todos ao seu redor para evitar sofrer com o que se tornou sua vida. Vazia e sem rumo. Vê em Pat alguém tão louco quanto ela, e com problemas tão difíceis de se resolver quantos os dela, mas há algo ali que ela aposta suas fichas para ver se no fim do arco iris ela terá o que espera.

Não é um simples filme de comédia romântica, porque ele se propõe a algo a mais. Eleva o padrão de filmes do gênero. Quer falar de nossas fragilidades e de nossos medos na vida e de como encarar as coisas de maneira positiva pode remediar, mas somente as experiencias reais darão conta disso. As fraquezas que todos nós temos e muitas vezes ficam expostas em atitudes cotidianas, como a do pai de Pat com seus transtornos e sua raiva, em diversos momentos. Assim como todos os que vivem em seus casamentos e familias para criar. Haverá sempre algo de bom que nos levará no meio das durezas da vida, seja esses momentos duradouros ou passageiros. O que vale é seguir acreditando nessas regras e se aproveitar sempre da chance de realizar.

Um dos melhores filmes que um ingresso poderá pagar, com um roteiro brilhante, uma direção muito competente e uma trilha sonora ótima. Isso não é tudo, mas o que há de mais sensacional nesse filme de David O. Russell talvez seja a simplicidade das coisas na vida. Do jogo ao amor, ambos pedem por um pouco de honestidade e sorte na hora de conseguir vencer em ambos. Numa das mais deliciosas experiencias narrativas do cinema dos dias de hoje e de um encanto, de um clima e de uma proximidade com a plateia e vida real, O Lado Bom da Vida parece que só quer te dar um final feliz, quando ele te reserva muito mais do que você esperava conseguir numa simples ida ao cinema.

Uma nota 5 já está de bom tamanho: casal com boa química.

A trilha sonora que mistura excelente hits e é uma das melhores trilhas do ano.




Se ela tá falando...



Nenhum comentário:

Postar um comentário