domingo, 24 de fevereiro de 2013

#18 crítica: A Hora Mais Escura

De olho na casa: Chastain brilha mais uma vez em Zero Dark Thirty
O SEAL em ação na captura do homem mais procurado do mundo.

A diretora Kathryn Bigelow, vencedora do Oscar de melhor diretor em 2010, por "Guerra ao Terror" resolveu ir adiante num projeto que por si só já envolve uma polêmica brava, que é a morte do terrorista Osama Bin Laden, em 2011 por uma equipe norte-americana do SEAL. A tal polêmica começa quando há suspeitas referentes a posse de informações sigilosas que a equipe de filmagens teve acesso na criação do roteiro. Além do filme ser acusado de ser conivente com o uso de tortura para interrogatórios  Se formos para o que ocorreu naquele dia tudo é muito envolto em mistério. Ao abrir a porta, Osama levou alguns tiros na cabeça e morreu na hora. De acordo com relatos, ele tentou reagir, mas foi morto instantaneamente. A tarefa da diretora ao lado do roteirista de "Guerra.." e jornalista, Mark Boal era trazer a vida um retrato fiel do que ocorreu naquele 1 de maio de 2011, quando ocorreu a operação em solo paquistanês. Na tela, podemos ver tudo o que poderia ser mostrado num filme de 2 horas e 40 minutos que corre sem deixar o espectador respirar, numa trama sem abrandar absolutamente nada e sem censura. Cenas de torturas, e diálogos afiados dos personagens. Em um roteiro magnifico que deve levar o Oscar.

Jessica Chastain é a engrenagem que põe o filme para se transformar numa obra tensa e grandiosa. Não vejo atriz nenhuma capaz de reproduzir os sentimentos e angustias que sua personagem é capaz de mostrar. Algo que vindo de uma personagem que abrevia tanto as condições para a atriz se expressar e transmitir suas reações diante de suas emoções e raiva, cabendo a ela somente as expressões que percorrem o seu rosto para dizer algo de si. Um papel duríssimo  e que comprova o grande talento dessa atriz. Ela interpreta Maya, uma agente da CIA que cuida da investigação sobre a Al Qaeda e captura dos principais lideres, tendo no cume a captura de Osama Bin Laden, ao lado de seus companheiros da agencia, composto por atores magníficos em seus papéis: Jennifer Ehle, Jason Clarke e Joel Edgerton. Sua busca por respostas sobre aonde se encontra Bin Laden vão da sua conivência com a tortura a momentos em que ela se apequena diante das fragilidades das situações. O desespero e a tensão que a cena em que seu carro é alvejado dá o tom do que se trata "entrar na lista", como se referem aqueles que estão sendo observados. Sua colega interpretada por Jennifer Ehle (excelente atuação), é o exemplo dos perigos que um funcionário da agencia estão propensos a sofrer em nome das investigações em curso. Maya caminha até o mais profundo que pode chegar e alcança a serena paz escura trazida pela vingança, que a motivou mais do que o papel humanista da prevenção de novos atentados, não que isso por si só já não implica, porém me refiro a sua principal motivação.

Em uma das cenas mais extraordinárias do filme, o carro com um sinal do mensageiro de Bin Laden captado por um celular apreendido, vai surgindo aos poucos conforme o carro do pessoal da CIA vai se aproximando em meio ao transito caótico de Islamabad. O tipo de tensão que a diretora Bigelow pinça com excelência. Essa cena é de arrepiar.

Kyle Chandler muito bem no filme ao lado do ator Jason Clarke:
Mark Strong cansado dos avisos de Chastain. Os vidros de sua sala que o digam.

Somos apresentados a uma trama que não deixa de surpreender mesmo ao já estarmos ciente do seu desfecho.O clima do filme, que logo no inicio já nos prepara para o sentimento de justiça pela morte do terrorista com as vozes de vitimas do 11/9, e se torna mais pesado até chegar ao seu fim. Pouco a pouco, a personagem de Chastain cresce na trama até o instante em que um avião inteiro do exército a espera nos últimos momentos naquela base americana palco de toda a história e o soldado constata que ela deve ser muito importante para ser a única passageira a ser conduzida pela aeronave. O seu rosto diz muito ali. Algo que se traduz no cansaço da corrida contra Bin Laden e um imenso desgaste.

Sobre as acusações de ser conivente com a tortura uma cena peculiar traz Maya e outros numa mesa vendo numa TV, o atual presidente Barack Obama dizer que não seria tolerada a tortura no seu governo. E o que vemos nos jornais hoje é o uso de drones na guerra ao terror. Irônico ele condenar o uso de tortura em seu governo, mas abraçar um dos instrumentos mais letais na guerra contra o terror, hoje muito mais usada em missões do que nos tempos de George W. Bush e ainda por cima continuar a manter aberta a prisão de Guantánamo  Ou seja, ironias.

A diretora Kathryn Bigelow e o roteirista Mark Boal: alvo no inimigo.

O filme é incrível e possui um roteiro genial, que aqui traz a tona diversas questões da politica internacional do país e o sentimento que circunda o espirito da população em busca de justiça pelo desfecho. A morte do terrorista enfraqueceu a Al Qaeda, que tem nos dias de hoje suas ações mais concentradas na Africa e nos levantes sunitas do Oriente Médio. Naquele 1 de maio, mais precisamente a 0:30 de 2 de maio de 2011, a população hasteou suas bandeiras americanas. Bin Laden foi executado  O percurso que o levou a ser morto gera questionamentos e legitimidade, que vão de encontro com a importancia de se ter feito tudo isso.  Aqui nos trazendo uma obra de ficção baseada na realidade, Bigelow merece os aplausos pela obra prima moderna num mundo sem romantismos. Um longa intenso e memorável, mas bastante problemático.



#17 crítica: Os Miseráveis

Hugh Jackman paga seus pecados no lugar de Jean Valjean
Tom Hooper e Jackman: Olha, o que é isso na sua camisa? Brincadeira velha.

Tom Hooper é um diretor que sabe manipular uma câmera como ninguém. Sua forma de nos ater ao modo como as coisas e cenários se dará frente a uma tela é de encher os lhos de admiração. Não vamos nos esquecer dos seus padrões de filmagens em que ele se utiliza de um tom contido e hipnotizante, com close sobre o rosto. O diretor que já faturou o Oscar de melhor diretor em 2011 por O Discurso do Rei, e já filmou dezenas de minisséries e longas em torno de sua carreira vem agora com a adaptação de um dos maiores musicais da história, baseado na obra escrita por Victor Hugo. "Os Miseráveis" surge nas telonas apoteótico e impressionante. A obra ganha um tratamento digno do seu meio de origem que são os palcos. Produção do Reino Unido, o filme consegue atingir as massas que não se interessam por musicais, já que o gênero possui uma estrutura narrativa que cansa aqueles que não estão acostumados com aquela conversa, diálogos e que de repente ganha contornos musicais. Nada contra os belos filmes musicais que já renderam diversas estatuetas do Oscar. Porém aqui em Os Miseráveis  de Tom Hooper algo transcende e se rebela contra os padrões excessivos dos musicais. Ganhando dimensões magnificas e uma historia que encanta com sua graça e beleza.

Contribui as lindas canções que o musical possui, mas o poder delas estão de posse dos atores que dão a elas um lirismo e um sentimento engrandecedor. Hugh Jackman faz um excelente Jean Valjean, prisioneiro que escapa da condenação ao qual foi imposto por roubar um pedaço de pão e segue seu rumo em busca de se tornar  um homem bom, prospero e responsável  Sua historia vem sendo cruzada com a do inspetor Javert (Russell Crowe) que não tolera desvios não cumprimento da lei e fará de tudo para prende-lo novamente. A trama se desenrola com o surgimento de Fantine (Anne Hathaway) que sofre com a distancia que mantem de sua filha Cossete (Isabelle Allen) para lhe fornecer dinheiro ao seu sustento. Como todos já sabem, Cossete cresce, aqui se torna Amanda Seyfrield, se apaixona por Marius (Eddie Redmayne), embalados em meio a revolução francesa. O amor conseguiu curar as feridas das misérias e por meio da paixão unir um França que aspirava liberdade.

Todas as falas são cantadas e os atores não seguem muito uma linha de logica nos desenvolvimentos das cenas. O melhor aqui talvez seja o visual, que assim como em O Discurso do Rei, ganha planos aéreos e tomadas um pouco acima do rosto, como já citado aqui. Um figurino e maquiagem de encher os olhos. Tudo feito com muitos detalhes. Os atores cantam bem e a história apesar de longa, dura o bastante para um épico que possui ingredientes para cativar os mais chatos. Jackman sem duvidas é o melhor, mas Anne Hathaway arrebata em iguais medidas. Ao cantar a todo o pulmão "Dreamed a Dream", que ela crava com uma dor que te atordoa de tão impactante. Há ainda no elenco os atores Sacha Baron Cohen e Helena Bohan Carter, que fazem os tutores de Cossete enquanto criança. Outro encanto nesse filme é a atriz Samantha Barks, que arrasa em diversos momentos do filme. O longa é um deleite e é o meu favorito a premiação para melhor filme nesse Oscar que ocorre em 24 desse mês. Um filme arrebatador, sem duvidas.

A dor de Hathaway enche os olhos.
Hathaway e Jackman por trás da miséria toda.
O Javert de Russell Crowe num dos melhores momentos do filme. 

Ouso afirmar que as agruras de Jean Valjean nunca foram tão bem contadas em quaisquer meios artísticos baseados na obra de Victor Hugo. Nem mesmo no cinema anteriormente. Casou muito bem a ideia de fazer um filme baseado no musical, aliada com uma trama que por si só possui dimensões épicas, um simples filme com diálogos e gênero tradicional não conseguiu unir a grandeza imensa da obra escrita por Hugo e a transmissão da mensagem do livro. Não há adendos e pontos negativos aqui. Les Miserábles é um estrondo. Da canção mais linda do filme, interpretada por Jackman "Suddenly", ao final magnifico, ele deixa nos nossos corações o mais intenso sentimento de graça e deslumbre. Fantástico.

Belo poster. Gostei.
E a trilha que dispensa comentários...


sábado, 23 de fevereiro de 2013

#16 crítica: O Lado Bom da Vida

A paixão pelos Eagles une Pat (Bradley Cooper) e Pat Sr. (Robert De Niro) ao seu modo.
Atuação magistral de Lawrence. Não nada igual. 

Sabe aqueles filmes que te faz embarcar na história e quando você vê os letreiros subindo vem aquela sensação de prazer em ter passado boas horas numa sala de cinema. Assim é uma das possíveis maneiras de explicar como se sentir depois de ver O Lado Bom da Vida (Silver Linings Playbook). A história de romance que há aqui pra mim tem muito de pretexto para falar da vida, dos momentos em que decidimos fazer coisas e nos surpreendemos com elas. Uma válvula de escape para todas as frustrações pode ser dar lugar para experiencias que nos transforma. O que é mais legal no filme de um dos meus diretores favoritos, David O. Russell é a forma encantadora de se revelar boas interpretações. Ele dá total liberdade criativa aos seus atores e o resultado é coesão em tudo. No seu ultimo filme, The Fighter, temos o que há de melhor nos atores Christian Bale, Amy Adans, Mark Wahlberg e Melissa Leo. Aqui algo se supera na opinião desse observador de filmes malcriado, que não liga para quem fala que esse filme é de mulherzinha e acha esse aqui o melhor filme do ano, até um outro aparecer para eu soltar esse elogio mais uma vez. Impossível não se sentir admirado e perplexo com tamanhas interpretações. Bradley Cooper, um ator que vem crescendo mais e mais. De um ator mediano, ele é a minha, a do Peter Travers, critico da Rolling Stone, e de todos os pensadores da sétima arte a aposta de ator para o futuro  Teve aqui sua primeira indicação ao Oscar de muitas que virão, sem duvida. Seu personagem Pat sofre de problemas psicológicos revelados após ter espancado o home com que sua mulher estava o traindo, em sua própria casa. Após ficar por durante oito meses numa clinica psicológica  sua mãe, numa atuação de arrepiar da veterana atriz Jackie Weaver, o resgata de lá e o traz de volta para junto da família  Seu pai, interpretado por Robert De Niro (outro ator que surge de um tempo sem brilho algum e agora vale de uma indicação de melhor ator coadjuvante por esse filme), se espanta num primeiro momento ao ver o filho regresso e passa a não descansar enquanto Pat não permanece ao seu lado nos jogos do time de futebol americano Philadelphia Eagles. Na sua mania que beira ao TOC, ele acredita que a presença do filho em sua casa tem uma razão, que é a de dar sorte a seu time. Outros atores que achei muito bom é o irmão de Pat (Shea Whigham), que protagoniza uma cena que gosto muito quando ambos vão ver no estádio um jogo decisivo contra o time de Nova York e todos acabam numa briga com outros torcedores, para o desespero do patriarca e outro retorno em grande estilo, o do ator Chris Tucker no papel de um internado do hospital psiquiátrico com quem Pat cria amizade.

Weaver e De Niro. Excelentes atuações.

Pat volta ao lar com a intenção de reatar com sua ex, que exigiu que a lei o mantivesse a uns metros de distancia dela. Voltou a correr para controlar o estresse com tudo, que só vem a crescer a medida que evita a tomar os medicamentos prescritos, e voltou também a se socializar com os amigos e com pessoas próximas.  Numa certa noite num jantar na casa de seu amigo, Pat revê a irmã da mulher de seu amigo, Tiffany (Jennifer Lawrence), cujo marido morreu recentemente e dali ambos passam a ter encontros cada vez mais fora do comum a todo momento, em especial nas corridas matinais de Pat. Ele não quer ficar mal visto ao seu lado, dado aos comentários maldosos feitos sobre ela, e ela não quer se sentir sozinha. Todo esse complicado relacionamento vai acabar numa competição de dança  em que é apostado todo o dinheiro do Pat pai. Até chegar esse momento muitas águas devem rolar e sentimentos desconhecidos e novos vão surgir entre eles e somente no momento certo será revelado.

David O. Russell e seus pupilos.
O bom filho a casa retorna: Pat volta do hospital psiquiátrico.

Lawrence é uma das melhores (porque são muitas) coisas do filme. Radiante, controladora, anti social. Um furacão. Uma das mais brilhantes atuações de sua carreira e das que já vi ultimamente. Sua Tiffany sofre e nunca admite seus problemas, pelo contrario preferindo se embebedar ou transar com todos ao seu redor para evitar sofrer com o que se tornou sua vida. Vazia e sem rumo. Vê em Pat alguém tão louco quanto ela, e com problemas tão difíceis de se resolver quantos os dela, mas há algo ali que ela aposta suas fichas para ver se no fim do arco iris ela terá o que espera.

Não é um simples filme de comédia romântica, porque ele se propõe a algo a mais. Eleva o padrão de filmes do gênero. Quer falar de nossas fragilidades e de nossos medos na vida e de como encarar as coisas de maneira positiva pode remediar, mas somente as experiencias reais darão conta disso. As fraquezas que todos nós temos e muitas vezes ficam expostas em atitudes cotidianas, como a do pai de Pat com seus transtornos e sua raiva, em diversos momentos. Assim como todos os que vivem em seus casamentos e familias para criar. Haverá sempre algo de bom que nos levará no meio das durezas da vida, seja esses momentos duradouros ou passageiros. O que vale é seguir acreditando nessas regras e se aproveitar sempre da chance de realizar.

Um dos melhores filmes que um ingresso poderá pagar, com um roteiro brilhante, uma direção muito competente e uma trilha sonora ótima. Isso não é tudo, mas o que há de mais sensacional nesse filme de David O. Russell talvez seja a simplicidade das coisas na vida. Do jogo ao amor, ambos pedem por um pouco de honestidade e sorte na hora de conseguir vencer em ambos. Numa das mais deliciosas experiencias narrativas do cinema dos dias de hoje e de um encanto, de um clima e de uma proximidade com a plateia e vida real, O Lado Bom da Vida parece que só quer te dar um final feliz, quando ele te reserva muito mais do que você esperava conseguir numa simples ida ao cinema.

Uma nota 5 já está de bom tamanho: casal com boa química.

A trilha sonora que mistura excelente hits e é uma das melhores trilhas do ano.




Se ela tá falando...



#15 crítica: Lincoln

Spielberg aqui faz um dos melhores trabalhos de sua carreira.

Em meio a diversos momentos desse novo filme de Steven Spielberg, a recriação de Lincoln, presidente mais importante da história dos Estados Unidos, é possível definir num âmbito abrangente toda a história da nação que sempre esteve a frente de seu tempo. O país que é conhecido por sua linhagem bem definida de advogados e legisladores, visto dessa forma principalmente por ingleses na época, dava suas primeiras diretrizes em busca de exercer o poder da democracia e da representação. O que conhecemos são duas frentes de batalha. A por meio das leis, como já foi dita e a por meio das armas, como atesta a tão sofrida e longa Guerra da Secessão, o conflito que dividiu dois lados, o sul e o norte por meio das diferenças que se davam, entre outras questões da ideia da abolição da escravatura. O que a batalha deixou foram ideais e um certo espirito ao combate que se vê muito no que se tornou a politica internacional do país e sua visão de mundo nos dias atuais.

Spielberg volta ao que já foi tema de diversos filmes seus como A Cor Purpura e Amistad, dois que me vem a cabeça agora. Judeu criado em Nova York, um dos diretores mais importantes dessa geração sabe bem o que foi o holocausto, tendo vivenciado a experiencia passada por seus antepassados. A dura lembrança daquele passado em que esteve inserido se viu presente no seu mais celebre filme, A Lista de Schindler e em outros longas com teores históricos de dimensões tão graves quanto esta. A cometida contra os negros é um dos maiores exemplos. Aqui em Lincoln já estamos muito a frente daquilo que por exemplo serviu de trama para Amistad. Já estamos nos últimos momentos da escravidão na America  que como vamos ver foi a base de um extremo desgaste. Logo no inicio já temos ele no começo do seu segundo mandato como presidente numa disputa que muitos não acreditavam que ele venceria. Não só venceu como se tornou adorado pelas pessoas. Em suas costas, uma guerra civil que derramava sangue a cada dia, que porém já estava nas vias de fato para ser costurado um acordo para trazer a paz duradoura tão desejada. Lincoln não aceitava apenas o fim do conflito. Para ele estava intimamente ligada a aprovação da 13ª emenda constitucional que exigia o fim da escravidão e os direitos civis aos negros. Em tese, para que não houvesse lados enciumados e nervosos deveria seguir por um dos dois caminhos. Ou a abolição, ou o fim da guerra. No fim quem venceu foi o espirito de liberdade tão aclamado por seus antepassados bastiões da independência.

Sally Field de volta ao cinema em Lincoln.
Pulso firma para aprovar a 13ª emenda da constituição.


Os fins justificam os meios. 

Para conseguir aprova-la teve de se submeter as trocas de interesses, subornos e corrupção. Tudo em nome de um bem maior. Toda a reconstituição da historia no longa foi contestada por muitos historiadores, mas em sua essencia segue intocavel com o roteiro esplendido e a brilhante composição do elenco. Boa parte dos nomes que estiveram nas diversas "batalhas" na vida real, foram elogiados por muitos pela forma como representaram. O mais impressionante sem duvida alguma é a do ator Daniel Day Lewis que arrebata nossas visões sobre o mito americano com trejeitos e movimentos que beiram ao espanto. Tommy Lee Jones e Sally Field, também extraordinarios. A sensação que o filme nos deixa é de deslumbre por um homem que definiu a América e o seu sonho de justiça e igualdade, de uma forma que poucos livros de história souberam transmitir com tamanha grandeza. A cena inicial em que Lincoln sentado numa mesa ouve apelos de soldados do norte em meio a guerra e um deles, um negro expoe as aflições com que vem passando e a esperança de que um dia um negro viesse a ocupar um cargo de general, sargento e quem sabe de presidente um dia. O que seria abominavel por muitos naquela época, vemos hoje um presidente que quebrou as barreiras daqueles tempos, ocupando a mesma Casa Branca e o que se vê aqui é essa ironia que o diretor traz a tona com seu filme, mergulhado num roteiro que não torna isso uma mensagem de muito altruismo melodico, baseado no livro "Team os Rivals: The Genius of Abraham Lincoln", de Doris Kearns Goodwin. Um filme sem sombra de duvidas nato dessa era Obama.

O diretor de Cavalo de Guerra e O Resgate do Soldado Ryan, parece que resolveu não pegar pesado com o sentimentalismo e todos aqueles momentos apoteoticos que geralmente tomam conta de seus filmes. Resultado da parceria com Tony Kushner, que assina o roteiro e com quem já trabalhou uma outra vez, em Munique (2006). Aqui repete-se um pouco daquele tom gelado e realista acerca dos eventos. Um tom mais intimo e reservado, como nas cenas em que Lincoln é visto pela camera deitado num tapete ao lado de seu filho mais novo. Caminhando até os momentos em que é posto em duvida sua liderança, e em todos os outros aqui vemos mais a constatação do que é real, sem muito brilho ou exclamações. Para quem espera algo que o faça sair da sala atordoado de emoção, pode achar o filme opaco e muito parado, já que o filme reserva mais momentos nas tribunas e negociações do que de fato em demais situações, como a guerra que nem é aprofundada nas suas trincheiras e canhões.

O filme lidera indicações ao Oscar e deve levar diretor e ator, mas veremos. Gosto disso, dessa maneira mais contida e observadora de Spielberg, porém aqui creio que tenha sido logo de cara mais coerente e respeitoso com a vida de Abraham Lincoln, um homem a frente do seu tempo responsavel por transformar uma nação que pensa o futuro.

Numa cena do filme, ele pergunta para dois rapazes que estão no aguardo a espera de um telegrama, sobre terem nascido naquele tempo. Um dos rapazes diz que o presidente certamente não pertencia áquele tempo, e sim um visionario, com visões bem mais a frente. Um filme esplendido e com dialogos primorosos. Palmas.

Dois Daniel Day-Lewis.

Ah, disponho aqui o virtual vencedor do Oscar de melhor trilha sonora. John Williams fez aqui uma de suas melhores composições. A trilha de Lincoln enche os olhos de tamanho esmero. Vale a pena ouvir.




domingo, 17 de fevereiro de 2013

#14 critica: Caça aos Gangsteres

Time de heróis num mundo bizarro.

Queria gostar desse filme. Vou ser honesto, havia me encantado por ele quando vi seu trailer lançado pela Warner ano passado. Mas o resultado é um dos piores filmes que estão em cartaz (isso se não houvesse João e Maria). O roteiro de Will Beall e Paul Lieberman (o primeiro sujeito é um dos que vem cuidando do roteiro da promessa da Warner, o filme da Liga da Justiça) é pavoroso. Assustador no sentido mais inacreditável possível  Ora me parece uma espécie de filme B mal feito. A direção de Ruben Fleischer (Zumbilândia, 50 minutos ou menos) não ajuda em nada e todo o resultado soa esquematizado. Os personagens são um puro esteriótipo de tudo o que já se viu em filmes mal feitos. O velho conto do bom e mal pitoresco. Por que diria isso? Baseado numa historia verídica  após perceber que Los Angeles vivia sob o comando de um gangster chamado Mickey Cohen, - interpretado pelo ator Sean Penn que aqui faz um misto grotesco de vilão de Dick Tracy com um medonho senso de humor, suas gags e referencias a Scarface que o roteiro rouba descaradamente, além do modo como é explorada sua vida de boxeador -, o chefe do departamento de segurança Bill Paker (Nick Nolte) observa no sargento John O'Mara (Josh Brolin) a perfeita representação do homem justo que podia enfraquecer nos setores vitais a operação de desenvolvimento da quadrilha de gangsteres liderado por Cohen. Para isso forma uma quadrilha de policiais para encarar o vilão. Não espere algo como em Os Intocáveis  onde Brian De Palma criou um clima e uma composição bem feita dos integrantes dessa equipe. Só digo que é dantesco. Cada integrante tem uma habilidade. Um é bom atirador, outro é bom com facas. Há um jovem e seu mentor. Em A Liga Extraordinária (2003), filme adaptado do novel de Alan Moore, que foi linchado na época, e com razão porque sofria das mesmas gags horrendas, mas quer saber fazia sentido. Nada demais, porém até que funcionava no roteiro. O filme de Fleischer é decepcionante e não empolga nem um pouco, pelo contrario. É previsível e chato. Nem tenho palavras para dizer o quanto ruim é a história, mas o filme não é só malhação  A direção de arte e reconstituição de época é de saltar os olhos. Os figurinos e até a interpretação dos atores que ali no filme pareciam vivenciar a história, fazem o seu máximo. O problema é nos convencer de um embate tão cartunistico, enfadonho. Vi esse filme por gostar dos atores e do visual que o trailer me passou. Ryan Gosling, que faz o sargento Jerry Wooters é um dos meus atores favoritos (se não o mais), aqui com a Emma Stone, me faria pensar, oh Deus, depois de Crazy, Stupid, Love (2011), de toda aquela química sensacional que gostei tanto aqui vai se repetir. Não. Talvez nuns segundos do filme, mas passa. Desperdício de tantos talentosos atores numa droga como essa. Me perdoe o tom, mas fujam. Pulem cercas, corram pelo gramado se virem esse filme passando. E os diálogos  Me esqueci de uns, mas gostaria de lembra-los para pô-los aqui. Não deu para fazer uma gracinha com esse texto, a fim de rirmos um pouco solitários na leitura desse texto, sobre esse filme. Deixa pra lá.

A proposito havia uma cena sensacional em que alguém entrava num cinema em meio a uma sessão e atirava em todos. Achei no trailer icônica  porém foi retirada do filme, devido aos atentados que ocorreram ano passado em sessões de cinema nos EUA. Nem importa muito, já que o filme é de uma violência desnecessária em certos momentos e nem uma cena com uma Carmem Miranda cantando num clube tornam  o simpático. Uma pena. Tempo jogado fora.

Aff...

#13 crítica: O Mestre

Freddie Quell buscando respostas numa vida atribulada.

Em raros momentos de deslumbre, o cinema de hoje reverencia Paul Thomas Anderson. O diretor que fez o melhor filme da década passada na opinião desse critico de araque que vos fala, o seu "There Will Be Blood", aqui chamado de "Sangue Negro". Um espetáculo aos olhos, numa história de quedas e redenções que salta aos pupilos. Agora, ele retorna a personagens que trazem um pouca da aura dos anos 60, numa América redefinindo sua identidade. Em "O Mestre", que acima de tudo é um filme que nos conduz para uma imersão, para os que se deixarem levar pelo filme, por sua forma de contar a história. O filme segue os passos de um ex-soldado da Marinha americana, Freddie Quell (Joaquim Phoenix, arrasando), que após o fim da segunda grande guerra, vive num ócio sem fim. Consegue um emprego numa loja de departamento, trabalhando como fotografo. Em meio a bebedeiras, entra num navio e permanece por lá. O comandante da navegação é um líder de uma seita, Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), que com seu carisma e teatralidade convence a todos de suas ideias. Principalmente, convence o perdido e desorientado Freddie Quell, que já não sabe o que fazer de sua vida desde que voltou do conflito, tendo perdido namorada, sonhos e um lugar chamar de casa. Dodd lhe dá um lugar para ficar, e uma função. Uma chance para que sirva de experiencias e venha com isso se redimir de sua vida pregressa e se curar de seus males por meio das doutrinas impostas pelo Mestre, como é assim chamado por boa parte das pessoas o líder da seita, que busca traços com a cientologia criada na vida real por L. Ron Hubbard, mas são apenas poucas as referencias e o enfoque não é uma critica a crença que atrai muitos famosos em Hollywood, como Tom Cruise e John Travolta. O objetivo é traçar um panorama do ambiente de uma geração, principalmente a americana, sobre um olhar esmiuçado e critico de Anderson, pós Guerras e em diferentes momentos como a mente de uns conduzia a solidão, ao fracasso e ao medo.

Se nesse duelo de dois personagens de certa forma parecidos ao seus modos, habitam o charlatanismo de um lado e o fracassado redimido de outro, nos vemos em meio a condição de mero espectador nessa linha tênue entre o choque e os limites que ambos pendem para se perderem de si. Dodd é convincente em suas demonstrações, mas não sente um brio e certo conforto interior. Vê num sujeito como Quinn, um ser alheio ao mundo em seu estado bruto e o trata como um verdadeiro animal, ao impor certas tarefas de "adestramento" para que compreenda o mundo. Nesse sentido, o ex-soldado da Marinha, de fato se enquadra no objetivo principal de Dodd que é achar alguém que explique seus métodos e sua doutrina. De um cara que só pensa em sexo e age de forma perturbadora  misturando componentes químicos em bebidas e se embebedando com elas, ele supõe ter atingido algo em sua vida com a tal crença.

O filme foi filmado em 65 mm, em alta definição, o que causa profundas vertigens em muitas das imagens que tomam proporções arrebatadoras, como nas cenas do inicio do longa, onde o ex-marinheiro Quinn viaja por diversos cantos da América. Como um todo ele consegue passar uma dimensão que se pode explorar com a precisão de um espectador, a poucos passos do inacreditável. Se aliado a uma fotografia fabulosa, uma trilha sonora (que vergonha não ter sido indicado ao Oscar!) de Jonny Greenwood, do Radiohead, que beira ao deslumbre, a equação resulta de um dos filmes mais belos do ano e com certeza da carreira do diretor, que tem seis filmes no currículo e ja um dos grandes. Sua sensibilidade em moldar a interpretação dos atores (que são magistrais, vide Phoenix e Hoffman, que em seus embates são grandiosos e Amy Adams excelente no papel da mulher de Dodd). Um clássico  mais um que vale a pena ser admirado. Com um brilho nos olhos.

Duelo de gigantes.
O diretor e o ator em alto mar.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

#12 crítica: Django Livre

"Kill white folks and they pay you for it? What's not to like?"

"At first you had my curiosity. Now you have my attention."

"So you a bounty hunter hum, a black boy getting paid to kill white man. How'd you like that line of work?"

"Django isn't a slave. Django is a free man. You understand? You can't treat him like any of these other niggers around here, cause he ain't like any of these other niggers around here. Ya got it?"

"O que signfica esse negro em cima desse cavalo". Samuel L. Jackson. Perfeito.

Os brilhantes dialogos acima são do mais novo filme do diretor Quentin Tarantino, Django Livre que estreou nessa sexta. O mesmo diretor que nos trouxe tantas obras fantasticas, como Pulp Fiction, Kill Bill Vol. 1 e 2, Bastardos Inglórios  Jackie Brown e por ai vai... vem com um filme agora que só com o numero de citações da palavra preconceituosa e proibida de ser dita entre os ianques: nigger (negro, num sentido pejorativo) já basta para ser polemica para muitos, tendo seu porta voz o diretor Spike Lee. Pura besteira. Aqui temos o que de melhor há na obra do diretor: sacadas geniais, dialogos primorosos, uma trilha-sonora de arrebentar, além da fotografia, da direção de arte, do figurino, edição...e tal, mas como não se encantar por obras tão bem feitas e que são tão divertidas. A saga do escravo Django que sabia o paradeiro de certos assassinos, que é liberto por um dentista de araque de nome Dr. King Schultz que usa a profissão como pano de fundo para sua verdadeira condição, a de um caçador de recompensas, bem ao estilo do bom western, leva o espectador numa viagem pelos Estados Unidos em busca de capturar procurados pela justiça "vivos ou mortos", com o fim tendo o artificio a redenção do amor, que redime a tudo e a tudos. Um amor banhado de sangue, pra ressaltar, claro.

Sai do cinema com a impressão de que esse seria o melhor filme de Tarantino, pelo detalhes que já citei, mas não quero ser injusto com suas tão outras excelentes crias. Não há como negar o esplendido trabalho que fez aqui ao recontar a história, (da ultima vez, recontou o desfecho da segunda guerra matando Hitler e terceiro Reich inteiro numa explosão em um cinema), só que com um tempero diferente. O clima dos grandes filmoes de western spaghetti tem suas referencias nos classicos de Sergio Corbucci e outros grandes figurões, e uma história que surpreendi ao ser inserido no universo de Tarantino, que como adorei o que disse o produtor musical Nelson Motta, é um genero proprio os filmes do diretor. Tem algo de tudo, com tudo o que é possivel injetar de seu liquidificador de cultura pop e referencias à classicos da sétima arte e muito sangue. E aqui em Django, tudo se eleva ao máximo, a fotografia em meio as montanhas e paisagens americanas é de enher os olhos, além da atuação primorosa que conduz em seus atores. Christoph Waltz tá mais uma vez incrivel num personagem feito especialmente para ele pelo diretor (assim como em Bastardos, igualmente incrivel, onde fez o nazista esquizofrenico), e aqui um hilario caçador de recompensas, que se passa como dentista. Leonardo Di Caprio está muito bem como o senhor de terras e proprietário sem escrupulos Calvin Candie, dono da Candyland - lugar para onde partem Django e Dr. King em busca de um amor antigo do escravo liberto. E o personagem de Samuel L. Jackson, genial interepretando, ironicamente um negro que é conivente com a opressão do proprio povo. O filme é um deleite para cinéfilos, um deslumbre que só é possivel comensurar com o nosso prazer em ver uma obra assim, com tanto esmero.

O filme, um dos mais longos em tempo de duração do diretor, se envereda por uma historia que beira a uma opera, com o desfecho apoteotico, sangrento e arrebatador. Jamie Foxx no papel de Django tá perfeito, uma escolha que claramente se vê sendo acertada, nem pensar o outro ator cotado para o papel daria tamanha vitalidade ao personagem, esse ator em questão é Will Smith, que não aceitou na época. Vou ser sincero, se há algo aqui de extraordinario, pode ter certeza que foi pensado minunciosamente para tomar vida e de fato, uma injustiça a Academia não ter indicado Tarantino a melhor diretor.Sua paixão e ardor em trazer aqui uma história que se embebeda de um roteiro excelente e uma produção sem igual. Lembrando que esse projeto era um sonho antigo do diretor, que agora finalmente tomou realidade. E ainda me pego ouvindo a trilha-sonora que é para variar, maravilhosa, usando um termo bem simplorio. Unir 2Pac e James Brown? Ijetar Ennio Morricone as tantas e ainda mesclar com bons sons de gente nova como o cantor John Legend. E tem uma especial que não sai da minha cabeça, a que é embalada na presença do Dr. King Schultz. "He's name is King. He's name is King. He have a horse...". haha... Todo momento em que se apresenta, o doutor Schultz o faz não somente a si mesmo, mas ao cavalo também com seu respectivo nome, numa carroça que carrega um consultorio movel com um dente gigante preso a uma mola no topo. Iconico. Sensacional.

Sadico e cheio de ironias. Esse é Calvin Candy (Leo Di Caprio)


Django Livre deixa a sensação de ao mesmo tempo ser um filme extremamente bem feito, te diverti sem piedades (atenção na cena com Jonah Hill, simplesmente hilária). Como numa sessão que tem tudo para impressionar e se tornar dificil de esquecer. Não dá para negar que o direot criou mais uma obra-prima em sua estante. Pimba.




Segue umas mais brilhantes trilhas sonoras dos ultimos tempos que eu saiba: Django!

#11 crítica: Amour

Haneke com os atores Emmanuelle Riva e Jean Louis-Trintignant

Vi no feriado de São Paulo, o filme Amor, do diretor Michael Haneke, numa sessão lotada no Frei Caneca. Tem algumas coisas que me intrigaram no filme, e tenho que admitir que o filme é duro, intenso e sem mensagens altruistas. Em muitas partes dele o senso de uma busca por entender a natureza desse sentimento que é o amor, acompanha toda a sessão. Um algo que transcende os limites do incalculavel, do ponto de vista do que é feito esse sentimento e os limites que faz dele algo de se admirar. O diretor austriaco é um manipulador desses cenarios e conduz o espectador a um desfecho cruel e inevitavel, como o protagonista denota em suas ações. Numa edição publicada ano passado na revista Cahiers Du Cinema, na capa a publicação desconstruia a idolatria por muitos dos criticos e profissionais sobre Haneke e seus filmes como Caché, A Fita Branca, Funny Games, por aí vai... a ideia era expor a frieza com que tratava seus temas sobre a humanidade, da qual ele pouco se importa. O que vemos nesse filme novo e aclamado do diretor é o inverso do que boa parte dos seus filmes expõe, aqu iestá a imagem de uma dolorosa separação de um casal de idosos por meio de uma doença que atinge a senhora, que a faz aos poucos, num processo de degradação, perder suas funções e sentidos vitais. Já seu marido, extremamente fiel se põe a fazer o que pode para salvá-la. O que sobra ao final do casamento é o amor que vive, mas pode ter algum valor de fato em meio a tanto sofrimento? O sentimentalismo aqui se esvai. O que sobra são pedaços de um amor que pode ser maior que tudo, ou pode ser algo que dure por um tempo em sua forma romantica de ser. Essa talvez seja sua essencia: o amor, seus pesos e medidas.
E foi inesperado. Se no começo, ambos acompanhavam seu pupilo musico, - a senhora de nome Anne, interpretada pela brilhante atriz Emmanuelle Riva, (de Hiroshima, meu amor, 1959) era uma professora de música antes de se definhar aos poucos. Acabamos vendo num café pela manhã, Anne parada diante de um marido (Jean Louis-Trintignant, esplendido), que atonito não sabe como reagir. Com o peso dos anos, caminha o máximo que pode e se veste. Com o espanto de ter visto sua mulher de tantos anos parada, congelada, abriu a torneira para molhar seu pescoço. Enquanto se vestia, percebeu que a torneira foi fechada. Voltou e Anne não se lembrou do ocorrido. Dali suas vidas não seriam as mesmas. O amor daria prova de sua força, sua intensidade e sua insensibilidade.

O fatidico momento em que a doença é revelada. Dores que dialogam com o amor.

O amor pode não existir, como dizem muitos, mas há um quê de libertador nesse sentimento, algo que impera em tudo em suas expressões, mas ao mesmo tempo nossa fragilidade humana se deteriora a medida que somos seres vivos feito de carne e ossos. Amor é algo poderoso, mas entre nós, seres humanos, é falivel de certas incongrencias. Sua intensidade se transforma em algo generico , mas outros sentimentos fazem tudo ser imperfeito num ambiente em que toda esse amorosidade se supera. É possivel ver um amor entre duas pessoas no máximo, por isso é um sentimento fragil. Um amor por uma comunidade ou algo assim, é a superação de outras questoes e necessidades. Sentimos o poder disso quando nos atraimos por alguém. Ou pelos pais, irmãos. Entretanto, não abrange tudo e todos. 
O longa-metragem de Michael Haneke é dificil de digerir. Tudo parece nos carregar a uma aflição crescente. Seja na torneira aberta, no pombo que entra de assalto a casa, os pesamos dos funcionarios do prédio em que moram. Sua forma de narrativa é gelada e ganha dimensões com o desfecho. Ali, nesse fim, tudo é em vão e vale a pena. De repente achamos que a cena continua com a filha entrando na casa dos pais e sentando a cadeira. Já havia acabado o script, os letreiros subiram e o tal do amor do título carrega a todos que se perguntam sobre a si mesmos e sua capacidade de amar alguém assim.

#10 crítica: Life of Pi


Uma vida de aventuras. E fé na vida.

Dar vazão ao inacreditável. É um pouco do que o diretor Ang Lee nos provoca ao trazer as telas o aclamado livro do escritor canadense Yann Martel, sobre um garoto que após uma tragédia fica a deriva perdido no oceano junto a um tigre. O diretor cria um mundo de bravura e sentimentos tão fortes que é simplesmente impossivel não se deixar levar pela trama que tem em sua essencia a busca para nos libertarmos do medo que há muitas vezes dentro de nós mesmos. A ideia nesse caso, o tigre sendo o medo que temos que enfrentar para podermos levar a vida. Os muitos significados que o filme traz talvez tenha no seu mais importante significado, a fé e a esperança que constroi dimensões maiores e instransponiveis do que o proprio ser humano e sua natureza.
O processo que aqui é criado para nos levar veracidade a historia vem de um arduo processo de criação dos cenarios e dos animais, todos assombrosamente criados em CGI, em especial o tigre no barco, a perfeição choca, sem duvidas. O refinamento dos efeitos, somados a trilha sonora magnifica e a direção competente de Lee faz de As aventuras de Pi um daqueles filmes memoraveis. Talvez pelo choque que a beleza das imagens causa aos olhos. Um esmero de detalhes, que remete a uma pintura. O mar e suas cores, o céu e suas cores. A surrealidade transitando por entre os mundos que o garoto contruiu para conduzir sua jornada rumo ao desconhecido (que é a vida?), e ao mundo que ali se desdobrava.
O filme conta a história de Piscine Molitor Patel, em referencia uma piscina que seu pai visitou na juventude em Paris, na França  por se tratar de uma piscina que purificava a alma de tão limpa e cristalina. O nome de batismo gerou como era de se esperar ironias e zombações de seus colegas no colegio. Ao se deparar com isso, resolveu convencer a todos que deveriam chamá-lo de Pi (em referencia ao algaritmo 3,14). Sua familia era proprietaria de um zoologico, e seus interesses além de cortejar uma garota do qual era apaixonado, era buscar novas religioes, como quem troca de roupas. Não se contentava com uma fé simples, e via nas diferentes manifestações de fé um significado em todas elas. Morava numa região francesa da India, que com os perigos que a instabilidade politica na época trazia ao país, seu pai tomou a decisão de mudar para um outro lugar para dar estabilidade e segurança a sua familia. Pegaram os animais mais valiosos  do zoo e partiram rumo ao Canadá. No trajeto, uma tempestade fez o navio cargueiro naufragar e com ele levar seus pais e seu irmão. Por ironia do destino, sobreviveu por ter saido do quarto no momento da tragédia. Se viu num barco com outros animais, dentre eles o tal tigre em meio a imensidão do oceano. Sua jornada de fé e bravura daria ali passos rumo ao inacreditável.
O oceano solitario e imenso fez com que tentasse sobreviver das mais impossiveis maneiras. O modo como se relacionava emocionalmente com os animais a bordo do pequeno barco, suas lembranças, medos são tão reais a quem assiste que nos sentimos presos completamente tragados ao filme, que ajudando em muito colabora com isso um impressionante 3D capaz de nos fazer criar laços de companheirismo ao garoto Pi em meio a sua epopéia. O destino insolito trouxe peixes voadores, suricatos que se viam aos montes numa ilha, além de um orangotango fêmea de nome suco de laranja que esteve a deriva e foi resgatada pelo barco de Pi.

Os poderes do CGI. Incrivel.

O fim nos traz a pergunta, o que de toda a jornada foi real ou ficção, em meio a questionamentos dos responsaveis pela empresa que cuidava do navio que naufragou. A trama, que é toda uma confissão de Pi a um escritor, que foi encorajado a tentar conhecer a história que o faria "acreditar em Deus"., termina da mesma forma, o que serve de pano de fundo a toda a epopeia, uma historia tragica e realista, ou algo que por ter ocorrido faria nos capazes de continuar acreditando na vida. A resposta não importa. O que sentimos por toda essa jornada já nos dá a resposta.
Um filme arrebatador e impressionante, um daqueles momentos que sabemos o quão extraordinario é a vida, um breve momento de reflexão sobre a luta para podermos superar o medo, as aflições da vida, sem sobra de duvida a morte como a maior de todas. Com a produção de James Cameron, Lee traz um excelente momento para nos encantarmos pela vida. Feito como um espetaculo da natureza saltando em cada um dos minutos do filme. Bravo.


#9 crítica: Jack Reacher - O último tiro

I'm sexy, baby.

É dificil definir a carreira de um ator, e se definitivamente o fizermos muitas questões entram em jogo. Seus altos e baixos, os bons momentos e suas inesqueciveis produções. Um ator como o praticante da cientologia Tom Cruise, tem um panorama vasto que passa por produções que mesclam em seu conteudo e significancia. Poucos tiveram a honra de ter filmado com tantos mestres do cinema quanto o ator, que só pra citar alguns, temos de Stanley Kubrick (em "De Olhos Bem Fechados") e Paul Thomas Anderson ("Magnolia"). De Brian DePalma (em "Missão Impossivel") a Francis Ford Coppola (em "The Outsiders", sem titulo em portugues), e por ai vai. De certa maneira, ele anda fazendo um filme atrás do outro, e a impressão é que de uns tempos pra cá ele vem aceitando e buscando todos os mais diversos papéis bi cinema. Nesse seu ultimo filme, "Jack Reacher" que estreou recentemente, temos alguém com a mesma vontade de antes e quer mostrar ainda mais sua força como nome estampando poster de cinema. Cruise continua em busca de papéis que venham continuar a definir sua carreira e o mantenha como um astro de relevância e sucesso no cinema. O resultado deste filme é bem melhor do que outros filmes seus, mas não é o seu melhor produto.

Sou apaixonado pela série Missão Impossivel, e ali havia um agente secreto num roteiro mais encorpado com mais possibilidades ao personagem e ao ator também em certa medida. Jack Reacher é também um personagem de uma célebre série nos livros de espionagem nos EUA. Tem uma historia interessante nas prateleiras, mas aqui não virou algo consistente. Suas aventuras no filme tem uma dose alta de adrenalina e empolga. A historia percorre inicialmente a captura de um atirador de elite que após cometer um assassinato em massa, tira a vida de inumeras pessoas que passavam num certo momento por uma praça. Suas unicas palavras são a de um nome: o ex-policial militar Jack Reacher, um ex-fuzileiro e condecorado soldado que vem passando seus ultimos dias escondido e vivendo isolado. Quando descobre numa TV que o tal atirador de elite cometeu tal crime, volta à cena a fim de entender o motivo. O amibiente todo do filme remete ao clima dos anos 80, desde os carros a mania de se usar telefones publicos a base de fichas. As cores fortes do filme e o tom de sessão da tarde compensa um roteiro confuso e com mais pretensões do que eficientes modos de se desenvolver a teia que leva aos verdadeiros assassinos. Alguns furos ali, e acolá, mas o resultado não é de se jogar fora. Tem um timing bacana e funciona bem como filme de ação, mas não deve ir longe. Nem deve ter continuações, mas aqui tá uma obra enxuta e uma sessão da tarde interessante. O ator aqui mergulha num tom misterioso, algo como uma mistura do seu personagem em "Colateral" (2004, Michael Mann) e um tipico heroi de ação dos anos 80 (frio, mas com coração bom). O filme é dirigido por Christopher McQuarrie, vencedor do Oscar por melhor roteiro original em 1996, por Os Suspeitos, aquele filme do Bryan Singer (X-men). Além disso, fez o roteiro de Operação Valquiria, filme com Tom Cruise. Esse é o seu segundo filme como diretor, o primeiro foi A Sangue Frio (2000).

Um filme de qualidades proprias e que poderia ter tido uma historia mais bem acabada, mas não decepciona. Lembrete: a participação do acalamado diretor Werner Herzog no filme vai do bizarro ao risivel. No film temos uma dose de cinema pipoca. Pra mim é o que basta.

Robert Duvall e Tom Cruise a espreita do inimigo.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

#8 crítica: Cloud Atlas

Antes da tormenta.

Uma sociedade repressora que alimenta um sistema de clones de mulheres orientais que vivem pelo tempo que acharem necessário, para servir como mão de obra. Um compositor bissexual que atrás de reconhecimento busca ajudar um senhor de idade, famoso músico a escrever suas melhores canções. Um jovem que viaja de navio e sofre com a pressão do ambiente e dos que querem sua morte, ao mesmo tempo em que ajuda um escravo a sobreviver. Uma jornalista que busca solucionar um ardiloso plano que envolve grandes empresas de petróleo  Um senhor de idade que ignorado por sua família  é colocado em um asilo, mas nada o fará desistir de sua busca em ir atrás de seu verdadeiro amor. E por fim, um homem que vive num futuro longínquo  onde tribos dominam e a fé abalada pode mudar os destinos de muitos. Tantas histórias se condensam em si e produz algo complexo, mas tateável. Num misto de filosofadas que nos propõe diversas observações sobre o mundo. A tarefa é feita para impressionar, só que cansa pelo tempo de filme e todas aquelas histórias cruzadas tentando achar algum fecho que una as todas e forme algo. Entretanto não dá para sair do assento sem se dar conta da beleza que os efeitos especiais nos causam. Pura vertigem, mas as filosofias jorradas, as mensagens todas e algo que não consigo me convencer na relação entre os atores do filme, Tom Hanks e Halle Berry, não sei. O saldo é positivo, o filme é bom, mas vale levar uma pipocas, doce e enfim, para ver uma obra que é grandiosa e merece ser deliciada como puro entretenimento, sem se envolver demais na toada de todo o papo furado. O resultado é confuso e caótico, mas interessante.

O filme é uma adaptação da célebre obra "Cloud Atlas", do escritor David Mitchell que criou um livro incrivel, mas transpor para as telas seria uma herege. Algo que redundaria inevitavelmente num risco grande de virar algo que não é no papel: chato e confuso. Se você assisitir com atenção o filme adaptado a altura da necessidade de não errar, os diretores da trilogia Matrix, Larry e Lana Wachowski trouxeram também para assinar a direção com eles, o premiado diretor de Corra, Lola Corra Tom Tynker, que soube o peso da missão. Não criaram uma obra prima, mas como ressaltou um critico do qual não me recordo o nome, talvez da revista Time, disse que esse filme não poderia ter sido feito se não por eles. O resultado foi fazer enorme parecer maior ainda, mas ainda assim nos faz pensar que nada passou de um bom filme. Pode parecer pouco, mas é excelente, já que ele não consegue ser chato, porém sucumbiu inevitavelmente a ser confuso. Digo no sentido de se entrelaçar demais entre as histórias, transpor tantas tramas que até se consegue acompanhar o fio da miada até seu desfecho, mas a sensação que o dilui em meio a necessidade de se querer conectar o tal passado, presente e futuro, só dificulta a compreensão.

Tom Hanks no futuro abandonado.

Agora vou contar como cheguei a minha opinião sobre o filme, que de pronto me deixou atordoado ao final da sessão, com tanto tempo de filme e baforada de mensagens altruistas. Vi e de inicionão gostei. Fiquei chapado com tanta informação, histórias e filosafadas. Parei um segundo e busquei rever o filme de novo na minha mente e percebi que havia algo muito bom, mas que não passava de um mero deslumbre com efeitos e então, me dei conta de que não achei o filme excelente, porém como todo libriano (talvez?), nem péssimo. Não arrebata, nem causa arrependimento. É belo até. Convenci-me de que as filosofias são capazes, sim, de nos causar certo efeito catártico também, o que somando aos efeitos especiais e as histórias que até se mostram divertidas e empolgantes, como a do asilo. sim, o filme pode ser algo bom.

Essas caracterizações dos muitos atores que a repetem são ridículas. Inegável.

Obs.: Assisti no Bristol, da Paulista numa tarde de chuviscos. Fui correndo para a Fnac, foliei algumas revistas gringas e quando vi já faltavam alguns minutos pro filme. Chuva brava e inesperada, tive que pegar um metrô até a estação consolação para evitar caminhar e me encharcar. Consegui ver o filme e achar um lugar no meio da lotação de gente. :D

Ridícula essa maquiagem, não?