sábado, 23 de fevereiro de 2013

#15 crítica: Lincoln

Spielberg aqui faz um dos melhores trabalhos de sua carreira.

Em meio a diversos momentos desse novo filme de Steven Spielberg, a recriação de Lincoln, presidente mais importante da história dos Estados Unidos, é possível definir num âmbito abrangente toda a história da nação que sempre esteve a frente de seu tempo. O país que é conhecido por sua linhagem bem definida de advogados e legisladores, visto dessa forma principalmente por ingleses na época, dava suas primeiras diretrizes em busca de exercer o poder da democracia e da representação. O que conhecemos são duas frentes de batalha. A por meio das leis, como já foi dita e a por meio das armas, como atesta a tão sofrida e longa Guerra da Secessão, o conflito que dividiu dois lados, o sul e o norte por meio das diferenças que se davam, entre outras questões da ideia da abolição da escravatura. O que a batalha deixou foram ideais e um certo espirito ao combate que se vê muito no que se tornou a politica internacional do país e sua visão de mundo nos dias atuais.

Spielberg volta ao que já foi tema de diversos filmes seus como A Cor Purpura e Amistad, dois que me vem a cabeça agora. Judeu criado em Nova York, um dos diretores mais importantes dessa geração sabe bem o que foi o holocausto, tendo vivenciado a experiencia passada por seus antepassados. A dura lembrança daquele passado em que esteve inserido se viu presente no seu mais celebre filme, A Lista de Schindler e em outros longas com teores históricos de dimensões tão graves quanto esta. A cometida contra os negros é um dos maiores exemplos. Aqui em Lincoln já estamos muito a frente daquilo que por exemplo serviu de trama para Amistad. Já estamos nos últimos momentos da escravidão na America  que como vamos ver foi a base de um extremo desgaste. Logo no inicio já temos ele no começo do seu segundo mandato como presidente numa disputa que muitos não acreditavam que ele venceria. Não só venceu como se tornou adorado pelas pessoas. Em suas costas, uma guerra civil que derramava sangue a cada dia, que porém já estava nas vias de fato para ser costurado um acordo para trazer a paz duradoura tão desejada. Lincoln não aceitava apenas o fim do conflito. Para ele estava intimamente ligada a aprovação da 13ª emenda constitucional que exigia o fim da escravidão e os direitos civis aos negros. Em tese, para que não houvesse lados enciumados e nervosos deveria seguir por um dos dois caminhos. Ou a abolição, ou o fim da guerra. No fim quem venceu foi o espirito de liberdade tão aclamado por seus antepassados bastiões da independência.

Sally Field de volta ao cinema em Lincoln.
Pulso firma para aprovar a 13ª emenda da constituição.


Os fins justificam os meios. 

Para conseguir aprova-la teve de se submeter as trocas de interesses, subornos e corrupção. Tudo em nome de um bem maior. Toda a reconstituição da historia no longa foi contestada por muitos historiadores, mas em sua essencia segue intocavel com o roteiro esplendido e a brilhante composição do elenco. Boa parte dos nomes que estiveram nas diversas "batalhas" na vida real, foram elogiados por muitos pela forma como representaram. O mais impressionante sem duvida alguma é a do ator Daniel Day Lewis que arrebata nossas visões sobre o mito americano com trejeitos e movimentos que beiram ao espanto. Tommy Lee Jones e Sally Field, também extraordinarios. A sensação que o filme nos deixa é de deslumbre por um homem que definiu a América e o seu sonho de justiça e igualdade, de uma forma que poucos livros de história souberam transmitir com tamanha grandeza. A cena inicial em que Lincoln sentado numa mesa ouve apelos de soldados do norte em meio a guerra e um deles, um negro expoe as aflições com que vem passando e a esperança de que um dia um negro viesse a ocupar um cargo de general, sargento e quem sabe de presidente um dia. O que seria abominavel por muitos naquela época, vemos hoje um presidente que quebrou as barreiras daqueles tempos, ocupando a mesma Casa Branca e o que se vê aqui é essa ironia que o diretor traz a tona com seu filme, mergulhado num roteiro que não torna isso uma mensagem de muito altruismo melodico, baseado no livro "Team os Rivals: The Genius of Abraham Lincoln", de Doris Kearns Goodwin. Um filme sem sombra de duvidas nato dessa era Obama.

O diretor de Cavalo de Guerra e O Resgate do Soldado Ryan, parece que resolveu não pegar pesado com o sentimentalismo e todos aqueles momentos apoteoticos que geralmente tomam conta de seus filmes. Resultado da parceria com Tony Kushner, que assina o roteiro e com quem já trabalhou uma outra vez, em Munique (2006). Aqui repete-se um pouco daquele tom gelado e realista acerca dos eventos. Um tom mais intimo e reservado, como nas cenas em que Lincoln é visto pela camera deitado num tapete ao lado de seu filho mais novo. Caminhando até os momentos em que é posto em duvida sua liderança, e em todos os outros aqui vemos mais a constatação do que é real, sem muito brilho ou exclamações. Para quem espera algo que o faça sair da sala atordoado de emoção, pode achar o filme opaco e muito parado, já que o filme reserva mais momentos nas tribunas e negociações do que de fato em demais situações, como a guerra que nem é aprofundada nas suas trincheiras e canhões.

O filme lidera indicações ao Oscar e deve levar diretor e ator, mas veremos. Gosto disso, dessa maneira mais contida e observadora de Spielberg, porém aqui creio que tenha sido logo de cara mais coerente e respeitoso com a vida de Abraham Lincoln, um homem a frente do seu tempo responsavel por transformar uma nação que pensa o futuro.

Numa cena do filme, ele pergunta para dois rapazes que estão no aguardo a espera de um telegrama, sobre terem nascido naquele tempo. Um dos rapazes diz que o presidente certamente não pertencia áquele tempo, e sim um visionario, com visões bem mais a frente. Um filme esplendido e com dialogos primorosos. Palmas.

Dois Daniel Day-Lewis.

Ah, disponho aqui o virtual vencedor do Oscar de melhor trilha sonora. John Williams fez aqui uma de suas melhores composições. A trilha de Lincoln enche os olhos de tamanho esmero. Vale a pena ouvir.




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