domingo, 17 de fevereiro de 2013

#13 crítica: O Mestre

Freddie Quell buscando respostas numa vida atribulada.

Em raros momentos de deslumbre, o cinema de hoje reverencia Paul Thomas Anderson. O diretor que fez o melhor filme da década passada na opinião desse critico de araque que vos fala, o seu "There Will Be Blood", aqui chamado de "Sangue Negro". Um espetáculo aos olhos, numa história de quedas e redenções que salta aos pupilos. Agora, ele retorna a personagens que trazem um pouca da aura dos anos 60, numa América redefinindo sua identidade. Em "O Mestre", que acima de tudo é um filme que nos conduz para uma imersão, para os que se deixarem levar pelo filme, por sua forma de contar a história. O filme segue os passos de um ex-soldado da Marinha americana, Freddie Quell (Joaquim Phoenix, arrasando), que após o fim da segunda grande guerra, vive num ócio sem fim. Consegue um emprego numa loja de departamento, trabalhando como fotografo. Em meio a bebedeiras, entra num navio e permanece por lá. O comandante da navegação é um líder de uma seita, Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), que com seu carisma e teatralidade convence a todos de suas ideias. Principalmente, convence o perdido e desorientado Freddie Quell, que já não sabe o que fazer de sua vida desde que voltou do conflito, tendo perdido namorada, sonhos e um lugar chamar de casa. Dodd lhe dá um lugar para ficar, e uma função. Uma chance para que sirva de experiencias e venha com isso se redimir de sua vida pregressa e se curar de seus males por meio das doutrinas impostas pelo Mestre, como é assim chamado por boa parte das pessoas o líder da seita, que busca traços com a cientologia criada na vida real por L. Ron Hubbard, mas são apenas poucas as referencias e o enfoque não é uma critica a crença que atrai muitos famosos em Hollywood, como Tom Cruise e John Travolta. O objetivo é traçar um panorama do ambiente de uma geração, principalmente a americana, sobre um olhar esmiuçado e critico de Anderson, pós Guerras e em diferentes momentos como a mente de uns conduzia a solidão, ao fracasso e ao medo.

Se nesse duelo de dois personagens de certa forma parecidos ao seus modos, habitam o charlatanismo de um lado e o fracassado redimido de outro, nos vemos em meio a condição de mero espectador nessa linha tênue entre o choque e os limites que ambos pendem para se perderem de si. Dodd é convincente em suas demonstrações, mas não sente um brio e certo conforto interior. Vê num sujeito como Quinn, um ser alheio ao mundo em seu estado bruto e o trata como um verdadeiro animal, ao impor certas tarefas de "adestramento" para que compreenda o mundo. Nesse sentido, o ex-soldado da Marinha, de fato se enquadra no objetivo principal de Dodd que é achar alguém que explique seus métodos e sua doutrina. De um cara que só pensa em sexo e age de forma perturbadora  misturando componentes químicos em bebidas e se embebedando com elas, ele supõe ter atingido algo em sua vida com a tal crença.

O filme foi filmado em 65 mm, em alta definição, o que causa profundas vertigens em muitas das imagens que tomam proporções arrebatadoras, como nas cenas do inicio do longa, onde o ex-marinheiro Quinn viaja por diversos cantos da América. Como um todo ele consegue passar uma dimensão que se pode explorar com a precisão de um espectador, a poucos passos do inacreditável. Se aliado a uma fotografia fabulosa, uma trilha sonora (que vergonha não ter sido indicado ao Oscar!) de Jonny Greenwood, do Radiohead, que beira ao deslumbre, a equação resulta de um dos filmes mais belos do ano e com certeza da carreira do diretor, que tem seis filmes no currículo e ja um dos grandes. Sua sensibilidade em moldar a interpretação dos atores (que são magistrais, vide Phoenix e Hoffman, que em seus embates são grandiosos e Amy Adams excelente no papel da mulher de Dodd). Um clássico  mais um que vale a pena ser admirado. Com um brilho nos olhos.

Duelo de gigantes.
O diretor e o ator em alto mar.

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